quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Bar é poesia (Desalento)




Desalento



(luiz alfredo motta fontana)




O violão sem cordas
testemunha do abandono
repousa em mesa ao centro

Ao lado dele
velho cachimbo
frio, sem tabaco, sem cheiros
faz companhia à garrafa vazia
com rótulo escocês

No chão, folhinha antiga
dias marcados
significados perdidos

Na parede, o retrato
musa abandonada
sem direito à versos
esboça ainda
um sorriso amarelado


  



terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Bar é poesia (Trégua)




Trégua




(luiz alfredo motta fontana)




Para além do mamoeiro
Sanhaço imita o céu
O menino
por tédio
aposenta o estilingue

Sabiás flauteiam
A tarde dormita
escapando entre meus dedos
Não há juras
nem anéis

Bar é poesia (Sem selo)




Sem selo


(luiz alfredo motta fontana)



Conheço esta esquina
O fluxo, o refluxo, o som, o medo

Conheço esta calçada
O passo, a fuga, o retorno, o frio

Conheço esta rua
portas, janelas, recuos

muros
baldios
em sombras

Só não te reconheço

O soluço, o suor, o arfar
estes os mesmos
Perdeste as vestes, a fantasia, o charme
Ficaste igual à tantas outras

Nua e triste

Restou o endereço

Quase em pânico
o carteiro
adivinhou-se
perdido
sem selo

domingo, 20 de dezembro de 2015

Bar é poesia (Tão me chamando pra pisar na areia)




Tão me chamando pra pisar na areia





(luiz alfredo motta fontana)




Tão me chamando pra pisar na areia
Tão me dizendo que chegou a hora
Tão me falando pra não me atrasar

Adeus Maria, chegou minha hora
Adeus menina, aqui não é meu lugar
Vou indo cruzar a linha
No meu jeito bem devagar
Mesmo assim não perco a hora
Mesmo assim vou mergulhar

Tão me chamando pra pisar na areia
Tão me dizendo que chegou a hora
Tão me falando pra não me atrasar

Adeus Maria
Adeus maninha
Adeus esquinas
Além da linha
Vou mergulhar

Tão me chamando pra pisar na areia
Tão me dizendo que chegou a hora
Tão me falando pra não me atrasar

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Bar é poesia (Acompanhando o gelo)




Acompanhando o gelo




(luiz alfredo Motta fontana)




O bar, não era o mesmo
Novo, o garçon
A cozinha, renovada

A rua, era a mesma
O bairro, mudara
Em cada varanda, esperanças outras
Na esquina, a ausência do medo
Na placa, a certeza do acerto

Vida longa?
O que faltara?

Talvez, um murmurinho, do passado
Antes, inquieto
Agora, mudo, calmo, desfeito

O bar não era o mesmo
Nem o poeta
Menos ainda, o poema
Os versos, agora escorriam
acompanhando o gelo.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Bar é poesia (O átimo)





O átimo




(luiz alfredo motta fontana)






O mergulho
cristal no malte contido
não mais gelo
reinventa-se
em singela brisa ao paladar

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Bar é saudade - Alfredo Fontana





Pai
8 de dezembro
Teu aniversário
Minha saudade persiste por 50 anos
Pai
Te abraço a cada lembrança!

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Bar é poesia (momento)



momento



(luiz alfredo motta fontana)




era um colibri
e distraidamente
beijava a tarde

Ella Fitzgerald ~ Misty Blue

Misty Blue - Dorothy Moore

Wilma Burgess - Misty Blue

Etta James - Misty Blue

Bar é poesia (não estranhe)







não estranhe







(luiz alfredo motta fontana)






não estranhe,
o vazio é parceiro,
imenso,
sem cheiro, sem sabor,
apenas quieto


não chore,
lágrimas se perderiam em meio à seca,
não mais umidade, não mais o riso escancarado,
apenas os bons modos,
a lembrança do que foi será estorvo


não volte,
será inútil,
o que brevemente fomos,
por acidente ou teimosia,
acabou em escolhas

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Bar é poesia (O vestígio)




O vestígio




(luiz alfredo motta fontana)




Se algum vestígio meu
resistiu
por descuido
em alguma gaveta tua
não o preserve como troféu
O passado
não é teu
não é meu
O riso de depois
já se perdeu
não o tenha como metro


Nosso baile acabou
já não conduzo teu bolero
O vestígio que restou
não sou eu
Emudeceu






sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Bar é poesia (E por falar em angústia...)




E por falar em angústia...




(luiz alfredo motta fontana)

( Tendo o SUS como musa ) 








Estranhos corredores
O caos veste comportadas filas

Aqui, e acolá,
uma declaração de bravura,
outra de descrença,
um murmúrio de cansaço,
dão cor à passividade face ao descaso


Com sorte, quiçá a douta figura, em branco, ouvirá suas dores.
O certo é que encaminhará o exame, tal qual o previsto, na ficha antes conquistada

Hipócrates ausente
Kafka dá plantão

Mas...
Acreditem...

Ainda assim, existe humor
Estranha maneira de chorar