quarta-feira, 30 de julho de 2014

Roberto Murolo 'O marenariello

Charge do dia





Sinfrônio - Diário do Nordeste - Fortaleza, CE

Edu Lobo - Resolução

Dona Dilma no país da hipocrisia, uma ode ao "Mercado"






O "Mercado" e Dilma discutem a relação.



O imbróglio Santander/Dilma ao menos produz um magistral artigo de Josias de Souza que o Blogbar transcreve:

"Demissão de analista do Santander é hipocrisia

Josias de Souza

30/07/2014 07:21 (Blog do Josias)



A três meses da eleição presidencial, o mercado financeiro vive o seguinte drama: metade da equipe de analistas está nervosa porque Dilma diz que a economia vai bem mas sabe que ela está mentindo e prepara ajustes para o caso de ser reeleita. A outra metade da equipe de analistas está nervosa porque Dilma diz que a economia vai bem e sabe que ela acredita mesmo nisso e não preparou nenhum ajuste. E Dilma está nervosa porque não sabe se diz que fará ajustes que ainda não preparou ou se prepara os ajustes e não diz. Ou vice-versa.
Foi contra esse pano de fundo confuso que o Santander enviou aos seus correntistas endinheirados um boletim sustentando a tese segundo a qual o sucesso eleitoral de Dilma potencializará a deterioração da conjuntura econômica. A plateia não viu a cara do autor do texto. Mas o vazamento da análise fez dele —ou seria ela?— o fantasma mais execrado da República.
O presidente do PT, Rui Falcão, chamou o desconhecido de terrorista. Lula vestiu saia no hectoplasma: “Essa moça não entende porra nenhuma do Brasil”. E endereçou um conselho para Emilio Botín, presidente mundial do Santander: “Ô, Botín, é o seguinte, meu querido: manter uma mulher dessa num cargo de chefia, sinceramente… Pode mandar embora. E dá o bônus dela pra mim, que eu sei como falo.”
Dilma preferiu o timbre de ameaça. “É inaceitável”, ela disse. “É inadmissível”, vociferou. “Eu vou ter uma atitude bastante clara em relação ao banco.'' Emparedado, o companheiro Botín veio à boca do palco para informar que o Santander teria enviado ao olho da rua a pessoa que redigiu o tal informe. Absteve-se de dar pseudônimo aos bois. A sinceridade do gesto é tão confiável quanto o catolicismo do banqueiro que se persígna ao passar pela porta de uma igreja.
Sendo o percentual de admiração e bondade das casas bancárias e dos operadores do mercado muito reduzido, o melhor a fazer antes de sair por aí dando urros, patadas e destilando ódio contra um fantasma, é reparar no ridículo que permeia a cena. Ganha um cargo de direção no Santander e um troféu de ingenuidade quem acreditar que uma análise de conjuntura chegaria às mãos dos correntistas mais ricos de um dos maiores bancos do mundo com conteúdo alheio ao pensamento da casa.
Admita-se, para efeito de raciocínio, que a análise anti-Dilma seja obra solitária de um fantasma com CPF e RG. Nessa hipótese, seu crime teria sido o de deitar sobre o papel raciocínios econômicos sussurrados por onze de cada dez analistas de mercado. Seu propósito não seria o de influir no vaivém das pesquisas, mas o de orientar os investimentos da clientela bem-posta do Santander. Uma caciquia que frequenta a tribo dos que conservam algo como R$ 2 trilhões investidos em fundos mútuos no Brasil —o grosso alocado em títulos da dívida pública.
Essa gente não está interessada na opinião de Rui Falcão, de Lula ou de Dilma. Essa gente quer ganhar dinheiro. E os ganhos aumentam na proporção direta dos desacertos da política fiscal do governo. Funciona assim: o Tesouro gasta mais do que o fisco arrecada. Em vez de apertar o cinto, a Fazenda recorre à criatividade contábil.
Para cobrir suas despesas, Brasília endivida-se até a raiz dos seus cabelos, dos meus, dos nossos cabelos. Não resta ao Banco Central senão elevar a taxa de juros. E ao Tesouro, pagar a remuneração necessária para se manter solvente. Em vez de investir na produção de copos e palitos de fósforos, a tribo dos fundos mútuos investe no papelório do governo. E o PIB definha. Nesse ambiente, a tempestade produzida pela análise do fantasma do Santander surte o mesmo efeito de um tablete de Alkaseltzer: é tempestade num copo d’água. O máximo que pode produzir é a migração para outros bancos dos clientes que se julgarem mal aconselhados.
O que provoca a lipoaspiração dos índices de Dilma nas pesquisas não são as análises do mercado, mas os efeitos que a inflação exerce na rotina dos assalariados e dos beneficiários do Bolsa Família. Esse pedaço do eleitorado está interessado no café com leite, não nos boletins do Santander. Num país inflacionário, seu principal problema é que sobra cada vez mais mês no fim da remuneração.
Nesse contexto, a suposta demissão de um analista-fantasma do Santander é mera hipocrisia. Se a moda pega, haverá um desemprego em massa no mercado financeiro. Se Lula e o petismo querem mesmo socorrer Dilma, é melhor esquecer os fantasmas e tentar convencê-la de que atribuir todos os desacertos econômicos à crise financeira internacional é o caminho mais longo entre o projeto reeleitoral e sua realização."

Bar é fotografia - Jim Phelps





Eve V

Jim Phelps

Poesia do dia (O gato)




O gato




(luiz alfredo motta fontana)




testemunha?

um gato rente ao muro

o luar entreabria a cena
a mesma rua, o mesmo portão
a cumplicidade das 3:10 da manhã

tudo era igual
ou quase...

pela simples razão
que teu dormir
agora é solitário

e o gato?

já esgueira em novo jardim

terça-feira, 29 de julho de 2014

Et si tu n'existais pas - Joe Dassin - French and English subtitles.mp4

Charge do dia





Pancho - Gazeta do Povo - Curitiba, PR

Renato Carosone - Luna Rossa testo

Bar é fotografia - Boris B.





Boris B.

Bar é prosa (Uma prosa com aroma de poesia!)



Uma prosa com aroma de poesia!





(luiz alfredo motta fontana)









Aprendi com Vinícius que amigos não são feitos, mas reconhecidos.

E assim vivi, reconhecendo um aqui, outro acolá.

Nunca os tive em quantidade, nem os quis assim, sou daqueles que precisam de um tempo, de um rito, de uma razão, de um momento.

Entretanto, por vezes, fui tomado pelo assombro, rodeado de convivas, tão duradouros quanto as festas, tão solícitos quanto os valetes de bons restaurantes.

Por vezes me vejo deserto de amizades, desprovido de cumplicidade, deslocado em minha mesa, estrategicamente ao canto, encantadoramente distante, embora ao alcance de um aceno.

Mas ainda assim, os amigos, eu os tenho, alguns em repouso, em algum endereço, que já não mais frequento, mas donos de meu apreço.

Outros, talvez, em compartilhada saudade, e civilizado respeito ao silêncio.

Poucos, insisto, mas meus.

Vários, por seu turno, foram os eventuais convivas, que por alguma razão desfiaram preces de amizade eterna, embora nunca os tenha percebido fraternos.

Esses, por vezes, como surgem, desaparecem, retornam ao palco, a espera de um novo conviva, com um novo sucesso em posar.

Lembram roupas de época, datadas, com nenhuma possibilidade de serem outra vez vestidas, apenas testemunhas de circunstâncias, trechos de um enredo, quando muito, partícipes de um descuidar.

Aprendi com Vínícius.

E agora sei.

Poucos são os parceiros.

Raras as composições.

Econômicos os versos.

Mas...

Linda a poesia!

Bar é fotografia - Igor Amelkovich




Igor Amelkovich

Poesia do dia (O garoto que já fui)




O garoto que já fui




(luiz alfredo motta fontana)






Teu viço,
já não possuo

Teus sonhos,
de quase todos acordei

Teus medos,
deram-me certezas

Tuas lutas,
desenharam minhas cicatrizes

Tua verdade,
meu credo

Teu sorriso,
ainda guardo

Teu olhar,
meu guia

Tua tristeza,
minha assinatura 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Herb Alpert - California Blues

Bar é arte - Lee Dos Santos





Slaughtered Lamb Pub

Lee Dos Santos

Prosa (O homem que falava com o passado)




O homem que falava com o passado



(luiz alfredo motta fontana)









- Há quanto tempo!


O barman equilibrava um sorriso enquanto lhe servia "o de sempre", que já poderia ser chamado de "não esqueci".

O copo baixo, o balde de gelo, o scotch 12 anos, ao lado a água mineral sem gás, a familiaridade sorria refeita.

Acendeu um cigarro, enquanto distraído percebia as mudanças, elas sempre ocorrem, até mesmo na disposição das mesas, e das noites, que agora, por certo, eram outras...

Divertia-se com os olhares de espanto, até mesmo de dúvida, com que lhe brindava um, ou outro, habituée da casa, ao menos não necessitava acenar, ou responder a acenos, esses deixaram de ocorrer quando naufragara, quando voltou a ser o que sempre fora, um estranho, num mundo pequeno, e sem mudanças, o que lhe trazia conforto. Filosofava: - Pior o fado do igual surpreendido em queda.

A noite avançava, em calma, o mesmo barman, o mesmo balcão, o mesmo prazer no dourado do malte, e enfim, a certeza de não ser incomodado, afinal estava estabelecido um tácito acordo: - não nos conhecemos, portanto não nos enxergamos.

- Seria sua volta?

- Não! Era era só a despedida.

Ao acordar decidira, acabara seu tempo de homem que falava com o passado, a vida seguia e ele estava atrasado.

Naquela noite foi o último a sair, no mesmo passo lento, e a única mentira fora dita ao barman na despedida:

- Até amanhã!

Charge do dia





Erlich - El País, es

Les Feuilles Mortes - Nat King Cole

Cora Vaucaire "Les feuilles mortes" (version originale) Prévert/Kosma

Les Feuilles Mortes - Yves Montand - tradução