segunda-feira, 28 de julho de 2014
Prosa (O homem que falava com o passado)
O homem que falava com o passado
(luiz alfredo motta fontana)
- Há quanto tempo!
O barman equilibrava um sorriso enquanto lhe servia "o de sempre", que já poderia ser chamado de "não esqueci".
O copo baixo, o balde de gelo, o scotch 12 anos, ao lado a água mineral sem gás, a familiaridade sorria refeita.
Acendeu um cigarro, enquanto distraído percebia as mudanças, elas sempre ocorrem, até mesmo na disposição das mesas, e das noites, que agora, por certo, eram outras...
Divertia-se com os olhares de espanto, até mesmo de dúvida, com que lhe brindava um, ou outro, habituée da casa, ao menos não necessitava acenar, ou responder a acenos, esses deixaram de ocorrer quando naufragara, quando voltou a ser o que sempre fora, um estranho, num mundo pequeno, e sem mudanças, o que lhe trazia conforto. Filosofava: - Pior o fado do igual surpreendido em queda.
A noite avançava, em calma, o mesmo barman, o mesmo balcão, o mesmo prazer no dourado do malte, e enfim, a certeza de não ser incomodado, afinal estava estabelecido um tácito acordo: - não nos conhecemos, portanto não nos enxergamos.
- Seria sua volta?
- Não! Era era só a despedida.
Ao acordar decidira, acabara seu tempo de homem que falava com o passado, a vida seguia e ele estava atrasado.
Naquela noite foi o último a sair, no mesmo passo lento, e a única mentira fora dita ao barman na despedida:
- Até amanhã!
Poesia do dia (armários)
armários
(luiz alfredo motta fontana)
lembrar partidas
reabrir gavetas
colar memórias
uma velha camisa xadrez
um sapato de pala alta
três ou quatro certezas, traduzidas do francês
o gosto antigo do run
para só então
esquecer as perdas de hoje
domingo, 27 de julho de 2014
Poesia do dia (E Fellini abraçou o poeta...)
E Fellini abraçou o poeta...
(luiz alfredo motta fontana)
Os enredos
foram,
ainda são,
e permanecerão,
efêmeros
Uns...
com tal fúria
deixam marcas
que cicatrizá-los
pertine aos segredos
dos efeitos especiais
Outros...
sequer reproduzem
pequenas lembranças
apenas ecoam suaves trilhas
Divas...
roubam cenas
e, de forma habitual,
são revistas
na nudez
de suas ausências
No coro...
ao meio da confusão de cenários
cintilam revelações
de coadjuvantes incertas
flutuando entre tomadas outras
O protagonista...
e seu longa-metragem
compõem
um festival de curtas
Em comum...
além do olhar
a tristeza que permeia
um tímido sorrir
sábado, 26 de julho de 2014
Bar é prosa (A menina de 50)
A menina de 50 (um quase conto...)
(luiz alfredo motta fontana)
Retocava com vagar os lábios.
O toilette do barzinho era agradável, tons leves, iluminação adequada, uma profusão de lenços e toalhas de papel, e principalmente, aquela hora, deserto...
Entre os detalhes do retoque sorria, o pensamento fluia em rápidas pinceladas:
- "Diferente aquele homem, não disfarçava o interesse, deixava claro o quanto estava interessado..."
Conferiu a bolsa, verificou novamente o celular, por sorte nenhuma ligação, nem mesmo da filhinha, querendo conferir o decorrer do encontro. ela que insistira em cada detalhe sobre a festa na noite anterior:
- Mamãe, como foi mesmo que ele chegou?
- Assim? Só estendeu a mão e você foi dançar com ele?
E surpresa, investia:
- Você, toda cheia de frescuras!!!
- Não acredito, ainda ficou com ele a noite inteirinha, até o final?
- Nossa!!!!
- Deve ser o máximo!!!
Pensando bem, nunca antes se livrara da "turminha" tão facilmente, a ponto de achar graça no desfilar das meninas, em fila indiana, despedindo-se, e verificando o atrevido.
Bem que insistiu em dizer que apenas se envolvera com o jeito descontraído, com o sorrir fácil, e quem sabe até mesmo com o efeito daquelas doses de uísque por ele servidas. Tudo bem que só uns dois, ou seriam três?
Só lembrava que gostara, a mesma sensação que sentiu ao receber, às duas da tarde, a ligação e o convite para o barzinho. Aceitar foi tão natural, que nem mesmo deu conta, só depois, mas era tarde, e afinal: - Porque não?
Fechou a bolsa, sentindo ainda o mesmo eriçar de quando o olhar lhe acariciou, parecia que a tocava, sem pressa, mas sem pudor, enquando falava do encanto de seu "jeitinho de menina"!
Aquele olhar a levara ao toilette, embora não precisasse, mas queria, porque queria, conferir a umidade.
- Incrível..., era fonte, intensa e viva, e era apenas o olhar...!!!
Quando retornou à mesa, já decidira, estendeu simplesmente a mão e sussurrou:
- Vamos!!!
A lua iluminava seus passos, de menina de 50, em direção ao carro...
O toilette do barzinho era agradável, tons leves, iluminação adequada, uma profusão de lenços e toalhas de papel, e principalmente, aquela hora, deserto...
Entre os detalhes do retoque sorria, o pensamento fluia em rápidas pinceladas:
- "Diferente aquele homem, não disfarçava o interesse, deixava claro o quanto estava interessado..."
Conferiu a bolsa, verificou novamente o celular, por sorte nenhuma ligação, nem mesmo da filhinha, querendo conferir o decorrer do encontro. ela que insistira em cada detalhe sobre a festa na noite anterior:
- Mamãe, como foi mesmo que ele chegou?
- Assim? Só estendeu a mão e você foi dançar com ele?
E surpresa, investia:
- Você, toda cheia de frescuras!!!
- Não acredito, ainda ficou com ele a noite inteirinha, até o final?
- Nossa!!!!
- Deve ser o máximo!!!
Pensando bem, nunca antes se livrara da "turminha" tão facilmente, a ponto de achar graça no desfilar das meninas, em fila indiana, despedindo-se, e verificando o atrevido.
Bem que insistiu em dizer que apenas se envolvera com o jeito descontraído, com o sorrir fácil, e quem sabe até mesmo com o efeito daquelas doses de uísque por ele servidas. Tudo bem que só uns dois, ou seriam três?
Só lembrava que gostara, a mesma sensação que sentiu ao receber, às duas da tarde, a ligação e o convite para o barzinho. Aceitar foi tão natural, que nem mesmo deu conta, só depois, mas era tarde, e afinal: - Porque não?
Fechou a bolsa, sentindo ainda o mesmo eriçar de quando o olhar lhe acariciou, parecia que a tocava, sem pressa, mas sem pudor, enquando falava do encanto de seu "jeitinho de menina"!
Aquele olhar a levara ao toilette, embora não precisasse, mas queria, porque queria, conferir a umidade.
- Incrível..., era fonte, intensa e viva, e era apenas o olhar...!!!
Quando retornou à mesa, já decidira, estendeu simplesmente a mão e sussurrou:
- Vamos!!!
A lua iluminava seus passos, de menina de 50, em direção ao carro...
Poesia do dia (Antes)
Antes
(luiz alfredo motta fontana)
A razão educo
busco,
muitas vezes em vão
A poesia tateio
busco,
e apenas reconheço
Está, antes de mim, presente
sexta-feira, 25 de julho de 2014
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