terça-feira, 30 de setembro de 2014

Bar é poesia (sem as marcas)




sem as marcas





(luiz alfredo motta fontana)









não estranhes
não refugues

pode ser
que não reconheças

talvez
até após o vestir
te julgues nua

mas...
acredites

meus versos
te refletem
sem as marcas
que deixaram em ti

Charge do dia




Benett - Gazeta do Povo - Curitiba, PR

Bar é poesia (Quando...)




Quando...





(luiz alfredo motta fontana)









quando
teu olhar é meu parceiro
quando
teu falar é som do meu querer
quando
relatos se entrelaçam
quando
o depois tem gosto do que foi
quando
mesmo sem, estamos com
quando
o jazz envolve a mesa
quando 
é leve o aroma do malte
quando
a noite renasce em versos

resta conjugar o pretérito
embora mais do que perfeito
sobreviver em afago
que repousa no lembrar
quando...

Bar é poesia (A poltrona azul)




A poltrona azul





(luiz alfredo motta fontana)








A sala
provisória
os móveis antigos
sem lembranças
minhas, ou tuas

Ela, a poltrona
por sua vez, em destaque

Azul
nunca fora de lá
como nossos momentos
apenas refugiou carinhos

Azul
sobre todas as coisas

Bela
como tu
Estrangeira
como eu

Um passado
tecido em azul

Bar é poesia (sua avenida era outra)




sua avenida era outra




(luiz alfredo motta fontana)




sua avenida era outra
não mais passista da escola
não mais ao alcance do beijo
não mais a um passo 
de sua rainha
de outros carnavais 

o seu samba era o mesmo
a harmonia
o ritmo
seus passos
ainda desenhavam
desejos nunca encabulados
na passarela de seus encantos
mas, sua avenida era outra
distante dos risos e abraços

seu samba ainda era o mesmo
acompanhado do pandeiro
dividindo o carnaval
entre certezas e o depois
recolhendo fantasias
salpicadas de luares

sua avenida era outra
nela desfilava a ausência
novo destaque de seu carnaval
cercada pela ala
ainda animada
deste eterno Pierrot
vestido de afagos
à mulher amada

sua avenida era outra
seu samba
agora sem rainha
o mesmo

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Bar é poesia (La nuit de pleine lune)




La nuit de pleine lune






(luiz alfredo motta fontana)











Tênue
quase invisível

leve
como se brisa fosse

delicada
envolta em aroma de fleurs des champs
Tua nudez
surgiu
iluminada

mistérios da nuit de pleine lune

Bar é poesia (Lavados)




Lavados




(luiz alfredo motta fontana)







Não fosse a tola ideia
na verdade
ato rotineiro
de acordar no chuveiro
os versos sonhados
estariam aqui
e não lavados

Bar é poesia (A orquídea e as tias)




A orquídea e as tias





(luiz alfredo motta fontana)









insiste em florir
na época
fora dela
a cada dia
despudorada, que só vendo

ela testemunha
não houve crime
não houve dano

paga-se o preço
apaga-se o abraço

já o sorriso
a cada florada
uma nova risada

apesar de tantas tias
tantas estrias
e nenhuma esperança

Bar é poesia (Somos)




Somos




(luiz alfredo motta fontana)






Quando teu olhar exibe
Quando tua pele é veste
Quando água é o tato

Somos nós
Somos nus
Somos

Bar é poesia (O gesto necessário)




O gesto necessário




(luiz alfredo motta fontana)







tornara-se ermitão
longe do murmurinho
das esquinas
dos becos
das praças e saídas

aos poucos recuperara
não
a fala excessiva
mas
o olhar que revela

o gesto necessário
confundia-se agora
com o silêncio e seus ditos

tornara-se  gente 
para além da solidão

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Bar é poesia (Cúmplice)




Cúmplice



(luiz alfredo motta fontana)






Trazia o ar tranquilo,
nele perceptível
a ausência do pesar.

No leve sorrir,
o testemunho
do alçar vôo.

Bar é poesia (E por falar em Hai Kai)




E por falar em Hai Kai




(luiz alfredo motta fontana)





é primavera

e entre outras coisas

dispo os versos

Bar é poesia (Eles sonham)




Eles sonham




(luiz alfredo motta fontana)








Os hormônios sonham,
a madrugada
testemunha.

Acordar
com o tato em alerta,
suspender o movimento,
no enlevo do contorno,
discretas evidências.

Os hormônios sonham,
lúdicas curvas,
sons em refúgio.

Os hormônios sonham.
persistem.

Como se jovens fossem!

Charge do dia





Pancho - Gazeta do Povo - Curitiba, PR

Bar é poesia (plena)




plena



(luiz alfredo motta fontana)






a suavidade nos gestos
a graça no falar
o mover que harmoniza

além dos véus
em arte revelada
impera a nudez

o fascínio de quem detém
o saciar dessa sede imensa

Bar é poesia (Esculpindo)




Esculpindo





(luiz alfredo motta fontana)






O medo
em cristal
disfarce
em sedimentos

O desejo
nunca ousado
repousa quieto
em relevos escuros

A cada cinzel
uma dor
a cada sulco
verte
um prazer

Possuir
torna-se verbo presente
desnudá-la
uma certeza

Sob o medo
além das defesas
respira
úmida
confusa e nua

O cinzel sorri
sob as mãos do escultor
cumprindo seu fado
sem hesitar a traz
em renovados pulsares

Em rubor
delicado e vivo
uma confissão
escorre em aroma
Nele, seu desejo
nela, sua assinatura