Bar é poesia (Contradições de estilo)




Contradições de estilo




(luiz alfredo motta fontana)







nas vitrines
à cada tarde
teu olhar busca
cores, texturas, e ousadias
que lhe cubram o corpo


quando à noite surge
o despir é iminente

Bar é poesia (Enredos findos)




Enredos findos




(luiz alfredo motta fontana) 



Se...
foram belos

Se...
foram vivos

Se...
foram apenas momentos e risos

Restam...
nus

com seus enredos findos

Bar é poesia (Um sorriso triste)




Um sorriso triste




(luiz alfredo motta fontana) 





a pior despedida
a do poeta à sua musa
ali, em silêncio
ao pé de versos mudos
recolhe o desejo
já não há retorno
apenas um sorriso triste

Bar é poesia (Mesa Vazia)






Mesa Vazia





(luiz alfredo motta fontana)










Enquanto houver
uma só mesa
vazia para ocupar

Mesmo que distante
mesmo que ao canto

Haverá a possibilidade
de um verso
entoado como refrão
ocupando sutilmente
o abandono

Nela pedirei copo e gelo
solidão e cinzeiro
em doses duplas
mas pausadas

O aroma do carvalho
dará sentido ao poema
iludirá o desconforto
mesmo que finda a cena
a espera
do copo vazio 

Bar é fotografia - Guido Argentini





"Tully on a window full of clouds"

Guido Argentini

Bar é poesia (Brinque de "roqueira")





Brinque de "roqueira"





(luiz alfredo motta fontana)









Leia
Drummond,
o que é Carlos
além "de Andrade"

Vinícius,
o "de Moraes"
e de tantas musas

Cecília
a "Meirelles"

Leia

Conjugue o verbo ler
Com direito ao depois...
compreender,
sentir,
olhar

Já o folhear
apenas permite
o citar,
o recitar,
o fingir

Leia
depois, como menina
brinque de "roqueira"
tome "um banho de lua".

Bar é poesia (O artesão)




O artesão




(luiz alfredo motta fontana)







Molda o poema em curvas suaves

Esculpe saudades onde era ilusão

Mimetiza o amanhã
com os tons do passado

Tateia as palavras
com um sorrir meio triste

É mero artesão
percorrendo versos

Já não finge poeta.

Bar é arte - Carole A. Feuerman




"Serena with Blue Cap"

Carole a. Feuerman




"Serena with Pink Cap"

Carole A. Feuerman




"Serena with Red Cap"

Carole A. Feuerman





"Serena with Yellow Cap"

Carole A. Feuerman




"Serena Print Series"

Carole A. Feurman

Bar é poesia (A artesã)




A artesã




(luiz alfredo motta fontana)








Delicada mulher.
Distraída artesã.
compõe minuetos em faina diária;

- "essa cor, sim";
- "aquela, de jeito algum';
- "esse traço, excede";
- "aquele, conforme".

Assim:
qual maestrina,
educa, compõe, harmoniza.

Delicada artesã.
Distraída mulher.

Bar é poesia (fotograma do que foi)




fotograma do que foi





(luiz alfredo motta fontana)










cada dia mais nu
cada manhã mais leve
pelas noites
a poesia como lume
confessa
em cada verso
acenos que tecem adeus

o tocar leve
de um sax prata
relata em tons suaves
o que foi
além de pistas do que será
saudade ou ausência

não mais estranho
embora triste
revelado
na quietude
de esmaecido fotograma

Bar é poesia (No espelho do Café Central)





No espelho do Café Central





(luiz alfredo motta fontana)







Há prazeres conhecidos no Café Central
o balcão familiar
o murmurinho dos habituées
o aroma de canela
o eventual olá de um conhecido

Nessa manhã
talvez por distração
notei um outro

no espelho por detrás
o reflexo
por óbvio
era o meu
mas...
traduzia um alguém
que por um tempo
caminhou com tua presença

Hoje
enfim
em companhia de tua ausência
sorriu para mim.

Bar é poesia (Chiados)




Chiados



(luiz alfredo motta fontana)







Sonhei em 78 rpm
Amei em LP
Confundi em estéreo
Filosofei em quadrifônico
Reaprendi em CD

Te revejo em MP3

Bar é poesia (Melhor é a noite)




Melhor é a noite





(luiz alfredo motta fontana)





Melhor é a noite,
a calma pausa entre ausências,
fino véu que esconde o olhar.

Melhor é a noite,
distraída, revelando o contorno
do estar só
em repouso.

Nela, o calar não grita,
apenas espera
o adormecer.

Bar é poesia (não rima)




não rima





(luiz alfredo motta fontana)








passado pode dar em samba
bolero, tango ou blues

mas...
sabe bem o poeta
passado não rima com cotidiano

Bar é poesia (nu)




nu




(luiz alfredo motta fontana)






sem fardos,
sem gavetas,
sem sequer segredos.

livre de bibliotecas,
acumuladas durante incertos anos,
trilhas e canções,
antes em gravações,
agora tímidas notas,
em assovios roucos
nenhum álbum,
ou mesmo fotos,
apenas as imagens retidas na memória.

esquecido dos anéis de doutor,
a lição que resta,
é antiga,
a zabumba,
do Caminho Suave.

sem culpas,
sem desculpas,
sem álibis.

livre,
leve,
nu. 

feliz?
talvez,
não fosse aquele verbo
perdido
junto ao verso
que já não existe.

Bar é poesia (O encanto)




O encanto





(luiz alfredo motta fontana)








A moça no limite da maré
caminha em passos de bolero
suave, triste, sem anel

O casal de muitas idades
à frente brinca
renascido em folguedos antigos

A moça caminha
o olhar úmido

O mar 
atento
transformado em delicado estar
busca com suas marés
lavar-lhe a sombra
levar as mágoas

A moça
O mar
O casal já velho

Traduzem
o encanto

Bar é poesia (Glamour)



Glamour



(luiz alfredo motta fontana)





Aos vinte anos
A pressentia em francês
Aos sessenta
Recordam em chansons

Bar é poesia (Poemeto cruel)




Poemeto cruel




(luiz alfredo motta fontana)






Passara a vida colecionando
de frases à bulas
com método e disciplina
para ao final
compreender

O alívio
morava no descarte

Bar é poesia (Dizem...)




Dizem...





(luiz alfredo motta fontana)









Dizem...

Que construímos mundos
Confortáveis, seguros, apreciados...
Cercados, por vezes floridos
Uma orquídea aqui, outra acolá

Depois, estremecemos
Passamos ao cuidar
Barreiras, muros altos, portas, sete chaves

O mundo fica "mundinho"
aprisionando
Qual gaiola o Bem-te-vi

Dizem que existem outros
Descuidados, sem essas manhas
Sem jardins, afora as praças
Sem quadros na parede, até pela ausência delas
Sem criados, mesmo que mudos

Levam consigo apenas o olhar,
E no olhar, o já visto e o porvir
Dizem que diversos, quase que avessos, seguindo seus caminhos,
mesmo que paralelos, apartados

Uns
com o mapa feito, com o chegar já conhecido

Outros
levados pela brisa, com o pousar não previsto

Dizem...

É a forma que encontraram
Para carimbar o estranho

Mas...

Apesar do dito...
Valeram os breves momentos havidos
Quando a lua se fez cúmplice
Quando a carícia se vestiu de afago
Quando terno era o desejo
Que mesmo assim queimava como lume

Afora isso o aprendizado...

Melhor ter vivido
do que apenas
o sonho
ter mantido aprisionado

Bar é poesia (Nus)




Nus





(luiz alfredo motta fontana)







Numa noite
nos vestimos
apenas com o luar
nessa noite
éramos, eu e tu
éramos um só
embora dois
mas sobretudo
éramos nus

Veio o dia
despertamos
eu e tu
ainda nus

No momento seguinte
sem que alguém nos visse
percebi, já vestido
teu aceno ao longe

Já não éramos
nem dois
nem um
nem nus

Hoje quando passeio ao luar
meu sorriso, que se esconde
desperta
por um instante
diz que fui
diz que fomos
nele acho até
que ainda somos

Nós
nus, num relance unos

Bar é poesia (tateando em baixos relevos)



tateando em baixos relevos






(luiz alfredo motta fontana)







Há algo, de impune, na autora de charadas
enquanto mistério


há algo, de triste, na mesma mulher
quando resta desnudo 
o que antes era segredo


Há algo...
além do conhecido umedecer